03/04/2008

31 - Largo Jorge de Sena

Jorge de Sena, natural de Lisboa, nasceu em 1919 e faleceu em 1978.
Formou-se na Faculdade de Engenharia do Porto, em 1959, foi poeta, dramaturgo, ficcionista e historiador da cultura, exilou-se voluntariamente no Brasil tendo-se naturalizado naquele país em 1963.
Através de Adolfo Casais Monteiro estabeleceu contacto com a revista Presença, a propósito de um poema de Álvaro de Campos, resultando daí a sua ligação aos Cadernos de Poesia, tendo publicado, em 1940, os sonetos Mastros e Ciclo, foi director daquela publicação durante algum tempo em parceria com Ruy Cinatti, José Blanc de Portugal e José Augusto França.
Desenvolveu uma actividade académica intensa nas áreas da literatura e cultura portuguesas. Foi catedrático de Teoria da Literatura na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, em várias cidades brasileiras
Em 1965 também como professor, foi para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978.
Recebeu vários prémios literários e condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique por serviços prestados à comunidade portuguesa e postumamente, com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago.
O Jorge de Sena Center for Portuguese na Universidade de Santa Barbara, foi inaugurado em 1980
Colaborou regularmente, como crítico, no semanário Mundo-Literário (1946-48) e numa série de outras publicações ligadas à literatura, em Portugal e no estrangeiro.
Escreveu sobre Camões e Fernando Pesoa ensaios indispensáveis para a compreensão da Obra dos dois poetas.
O livro «A Poesia de Camões, Ensaio da Revelação da Dialéctica Camoniana», A Estrutura de Os Lusíadas e Outros Estudos Camonianos e de Poesia Peninsular do Século XVI, publicado em 1948.
Em 1973, publicou o poema «Camões dirige-se aos seus contemporâneos»>.
A poesia era, para Jorge de Sena, uma forma de intervenção, que vinham sobretudo dos movimentos e filosofias hegeliana e marxista poeta das oposições humanas, o bem e o mal ou Deus e o homem, critico mordaz, foi um dos grandes vultos da poesia e do ensaísmo português da segunda metade do século XX.
A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.

Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço. És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não!

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